>> Lembranças
30 de junho de 2009 | Dhay
Era atrás do Pátio do velho colégio, onde eu estudei o primário e o ginásio, que ao ouvir o sinal, descíamo correndo as escadas. Cada um com a sua missão, pegar o próprio papelão na cozinha da escola.
A Garota ruiva da minha sala, tinha uma certa antipatia por mim, como todas (sempre!).. rsrs. Ela e a maioria das meninas, em seus estilinhos hiper-mega-paty. Cogitavam a ida ao shopping trocar seu NIKE AIR (era o mais bam-bam-bam da época) ou então qualquer futilidade parecida. Iam para a diretoria quase todos o dias porque odiavam o uniforme e não o usavam e só entravam na sala com a permissão da diretora.
Contrariamente eu adorava o uniforme, adorava aquele agasalho porque deixava meus movimentos livres eu precisava disto.
Neste dia especifico, corremos ao ouvir o sinal, passamos na cozinha para pegar as cxs de papelão. Não lembro bem porquê, mas cheguei minnitinhos depois de quase todos. E lá vinha eu com meu boné pra trás, vestindo a blusa do agasalho com meu papelão na mão, quando vi as patys à sua volta. Me mordi de ciume, eu assumo. Eu gostava "dele" e não era segredo pra ninguém. Ele e o mundo inteiro sabiam. Mas ele não me dava bola. Eu irmã do melhor amigo dele. Bem, corada de ciume, fui em direção oposta à rodinha que as patricinhas bonitinhas e tão arrumadinhas formaram ao redor dele. Até que ele me puxou, me abraçando e respondeu à elas: "neste bairro e colégio, a ÙNICA MULHER (eu, com 9 ou 10 anos.. rsrsrs) que sabe o que é HIP HOP é esta aqui. Ela sim sabe o que é break, o que é funk (na epoca bem diferente destes batidões que ouvimos agora.. eca!!!), sabe muito de grafite, conhece rap e a responsa de um DJ". Joguei o braço dele longe, corada de vergonha pelo elogio. Mas revoltada por ter me sentido usada para ele se crescer frente às patricinhas da minha sala.
Peguei meu papelão, fechei o agasalho e chamei outro colega pra me ensinar o passinho que faltava pra nossa apresentação de domingo, numa discoteca no bairro onde moro hoje (nossaaa!!!). Então, ensaiei o bonequinho, começava a aprender "moinho de vento". Coreografias do break com tantos passos inspirados e totalmente plagiados dele sim, MICHAEL JACKSON.
Entre um moinho e outro, moonwalk e tantos outros.
Na época, Thaíde emplacava "Corpo Fechado" e Jack "centro da cidade".
Época de ouro, sem dúvidas. Eu, a Vanessa e a Tina com passinhos do House, mas só eu me metia no break mesmo.
Hoje, a trabalho, passei proximo (caminho) ao palco destas emoções e outros fatos: são bento.
Os finais de semana eram certos. Rodas de break. O hip hop tinha outro cenário.
Aos Domingos era certo: Cadilac, Zoon, as vezes até encaravamos a Emerald Hill. As sextas, nesta epoca, eu só conseguia entrar na Colors...
Anos mais tarde, eu ja poderia frequentar as rodas de break na OVERNIGHT, as sextas e sabados.
Bons tempos. Em casa, dançava ao som de BAD, tentando o melhor desempenho. Não só imitando, mas tentando melhorar-me pra estar no break.
Algumas noites, em claro, vezes chorando, vezes apenas curtindo, mas sempre sonhando ao som das baladas que emplacavam do MJ.
Lembro a decepção do meu pai, qdo um dia após ganhar minha primeira bicicleta, fiquei em casa dançando ao som deste album. Ele esperava que eu estivesse com a bike por aí...
Desde cedo não me vendia.. hehehehe!
Derepente, todas estas lembranças, até meio doloridas quase não tem força alguma. Lindo pra época. Hoje não faria muito sentido, se não fosse um único vínculo que liga as épocas: a mesma pessoa. O que a garotinha com boné pra trás e papelão na mão tem a ver com a mulher de cabelos curtos (vezes de boné tb) e mal arrumada? Alguns sonhos nas mãos... alguma semelhança no olhar. A mesma emoção e sentimentos parecidos aos 7, 8... 10 e 30 anos.
As mesmas coisas que me despertaram e foram capazes de me emocionar aos 9 anos, ainda me despertam a mesma emoção.
Faz com que a menina tímida, horas extrovertida demais, totalmente desencanada e alheia aos pensamentos da maioria naquela época, ainda esteja viva. Com os mesmo pensamentos alheios e visão diferente. A mesma diferente interpretação de sentir e viver. O mesmo olhar emocionado e não encarado de sempre... desde tão cedo, permanece até hoje! Incompreendido e distorcido por terceiros...
Feliz pracaralho por isso! Mas sei do perigo que acerca tudo isso tb, mas aí é assunto pra outro post...
E tudo isso ocorre com a mesma trilha sonora: "michael jackson".
Extraordinario!
PS: Depois de toda esta reflexão interna, e ter ido tão longe na minha própria história, chego em casa do trabalho e minha mãe diz: "olha, ainda dá tempo, ele só será velado na sexta-feira e será mesmo em NEVERLAND"... Rimos, né?! Figuraça a minha mãe... acho que tenho a quem puxar!
1 comentários:
adorei o texto amor..
da maneira que tanto gosto, com historinha..pra ficar perfeito, só faltou uma imagem pra ilustrar, mas ficou ótimo..
nossa vida, nossa realidade, nossa historia..
até me inspirou a escrever tb..
amo!
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